A sensação de nostalgia era contagiante, após tanto tempo Ela estava de volta, precisando como nunca do conforto de si mesma, dos dias frios e ensolarados, ou nublados e abafados, cheio de ventanias e fadas. Do rangido da velha balança. De tudo.
O gramado estava verde esmeralda, brilhante, como o deixara quando saiu pela última vez, visto durante o intervalo por breves vislumbres saudosos e cheios de adoração. Agora que estava de volta percebeu o tamanho da saudade que sentiu durante sua ausência, e o tamanho da importância daquele mundo em sua pequena vida.
Muitas coisas mudaram desde a última vez em que ela esteve solta em tanta magia, estava um pouco cansada agora, e foi no momento em que se aconchegou na sua balança enferrujada que ouviu as primeiras notas de uma melodia familiar e tranquilizadora... sua velha caixínha de música prateada estava lá, mas a bailarina dentro dela estava caida, tombada em algum momento de sua dança eterna e sem poder se levantar ficou ali a espera de ajuda. A menininha levantou de onde estava e sentou no chão macio ao lado da caixinha. Observou. Pensou. Tomou o pequeno objeto em suas mão deu corda e colocou a bailarina onde ela realmente deveria ficar - no centro do pequeno palco - girando, girando.
segunda-feira, 20 de dezembro de 2010
quinta-feira, 12 de agosto de 2010
Borboletas
Entre nuvens diáfanas e estrelas prateadas a noite estava linda, o veludo negro que se estendia sob a menininha montava com capricho o cenário para a sua euforia. A balança vermelha, encarregada de embalar seus sonhos acordados, balançava suavemente com um rangido baixo que nem por um momento conseguiu tirar ela de seu foco. Seus olhos brilhavam com as possibilidades, coisas que pareciam fáceis e deliciosas demais de realizar, no seu estomago as borboletas da espectativa dançavam deixando um mal estar bem vindo. Horas indistintas passaram enquanto ela ficava ali, meditando sobre sua vida, suas oportunidades, suas chances - aproveitadas ou não.
o que ela queria realmente? Ficava cada dia mais dificil de saber. Não poderia deixar para traz o que conquistou, era bom demais... mas como então renegar o que ela realmente queria? queria mesmo??
o que ela queria realmente? Ficava cada dia mais dificil de saber. Não poderia deixar para traz o que conquistou, era bom demais... mas como então renegar o que ela realmente queria? queria mesmo??
sábado, 26 de junho de 2010
Soluço
Sonhos... sonhos. Estava farta disso. A cada noite uma traição involuntária e desagradável a sua própria promessa. As imagens em tons desbotados de filme antigo enchiam sua mente com imagens distintas. Cenas eufóricas, felizes, impossíveis se passavam diante de seus olhos com uma realidade brutal e desconcertante. Era um sonho completo e a menininha viveu ele a cada suspiro envolvida pela veracidade de suas ilusões. Ilusões forçadas que ela tentava afastar de si. Imagens soltas passavam diante de seus olhos, arrancando lágrimas indesejadas que escorriam soltas por seu rosto pálido, agora quase translucido. E foi um soluço carregado de lamento que tirou ela desse transe, o travasseiro molhado por horas seguidas de suas lágrimas e seu sofrimento contido.
sábado, 19 de junho de 2010
Craquelado
Ela gostava dos primeiros dias do inverno, quando a árvore mais comprida de seu grande gramado libertava as folhas finas, a essa altura muito secas e quebradissas. Tudo num raio de 10 metros da árvore ficava pintado em vários tons de marrom, e ela, num prazer inocente e verdadeiro pisava nas folhas com calma e precisão, se deliciando com toda a sensação envolvida. O barulho seco e craquelado, a textura do momento era uma coisa fora do real, como se um segundo se transformasse em horas e cada pedacinho de folha se partindo era particularmente especial e único. Um ato quase bobo, um tolice particular e agradável.
domingo, 13 de junho de 2010
Fagulhas
O dia estava congelante, tão frio que seus pés e mãos ardiam judiados pelo vento que varria a pequena clareira forrada de folhas marrons e quebradiças. Já estava escuro apesar de ser cedo e algumas estrelas já apontavam no céu trazendo uma noite prematura. O riacho borbulhava feliz em algum lugar perto dali, um barulho fresco e fluido que dava a noite uma trilha sonora gélida. Levantou do tronco que usava de banco, provavelmente de alguma árvore seca derrubada pelo vento cruel que recentemente não dava trégua, e saiu em busca de gravetos para uma fogueira, a escuridão não permitia que ela fosse muito longe sem se perder, então se orientando pela fraca claridade da clareira, fruto das estrelas e da lua minguante no céu. Depois de algum tempo jah tinha uma boa quantidade de madeira e com auxilio de um esqueiro e uns pedaços de jornal acendeu a fogueira exatamente no centro do lugar. O fogo, laranja vivo, hipnotizou a menininha. As labaredas lambiam a madeira consumindo rapidamente como se estivesse com fome pequenas fagulhas se soltavam e se perdiam no ar junto com a fumaça, era inebriante observar. A menininha se acomodou graciosamente bem perto da fogueira e agarrada as suas pernas cantarolou músicas sem nenhuma ordem lógica, apenas as que vinham em sua mente aleatoriamente. Pensou nas mil coisas que sentia falta, em outras mil que o tempo levou de sua vida, nas perdas dolorosas e nos afastamentos necessários, nos momentos que gostaria de reviver e naqueles que gostaria de esquecer. Pensou nas pessoas, todas elas. E em meio a colicas de saudade acordou de seus devaneios. A fogueira estava reduzida a brasas incandescentes, uma ou outra chama apenas havia conseguido resistir, agarrada em algum graveto. Ela se acomodou encolhida perto das fogueira quase estinta agora, aproveitando seus ultimos suspiros de calor e ali, aconchegada nas folhas se enroscou num sono profundo e tranquilo, pontuado por alguns sonhos já comuns.
quarta-feira, 19 de maio de 2010
in memoriam
Poucas palavras podem descrever a falta que eu vou sentir daquelas orelhas muito macias, daqueles olhos muito brilhantes e de toda aquela doçura sem fim.
Um pequeno grande personagem, um pequeno enorme cachorro.
Espero te ver brilhando no céu todos os dias pela manhã. Aquela brilhante estrela azul
Um pequeno grande personagem, um pequeno enorme cachorro.
Espero te ver brilhando no céu todos os dias pela manhã. Aquela brilhante estrela azul
terça-feira, 27 de abril de 2010
Horas
O dia para ela tinha sido completamente atipico, as músicas de seu despertador não faziam o menor sentido completamente enroladas em seus sonhos malucos, o tempo passava lento quando costumava voar, e começou a voar quando deveria se arrastar, ela estava prester a gritar quando novamente adormeceu. Um sonho cruel marcou seus minutos de sono mal dormido, era absurdamente real e suas cores eram de um filme velho meio gasto e desbotado. O dia correu preguiçosamente, em meio a momentos incomuns, risadas sem humor, comidas sem gosto. No final de um dia quase insuportável uma infinidade de cores enchia aquele mesmo retângulo infinito e luminoso, todas em preto e branco para a menininha que secava com a manga da blusa vermelha os olhos encharcados pelo esforço de distinguir as nuances frenéticas que pulavam e brilhavam na sua frente, sem resultado aparente. Tudo que ela queria ver agora era um lindo verde confuso mas o cinza desolador era tudo que chegava a ela e antes que pudesse esperar mais tudo virou uma grande mancha, as pérolas a impediam de ver qualquer coisa. A antiga sensação de impotência estava de volta, a pior sensação. Desesperadora. Seguida por um entorpecimento que tirou ela de qualquer frequencia. Sua mente estava solta no ar, sem processar nada apenas a eterna perda. E assim continuou, um longo dia terminando em pontadas torturantes.
sábado, 24 de abril de 2010
Folhas
A temperatura não estava das mais quentes, um solzinho tímido brilhava fraco no céu de outono, as folhas coloridas salpicavam o chão e o ar levadas pelo vento. Ela teve o desejo de ir até o riacho. A água estava fria e ela nadou ali por algum tempo, brincou com algumas pedrinhas da margem, passou horas sentada, sem se mexer, apenas sentindo a correnteza fazer seu cabelo dançar, flutuando na superfície. Quando saiu da água estava um pouco tonta, foi até um recorte de sol numa pequena clareira do bosque, estendeu sua toalha cuidadosamente sobre as folhas e deitou o contraste era lindo: um retangulo branco de aparência granulada e muito macia recortando um mar de folhas em todos os tons de outono. Deitou ali, os cabelos espalhados em volta da cabeça. O sol esquentando um pouco sua pele gelada até que começou a sentir as gotas escorrendo por seu abdomen e sua perna, fugindo do calor, tentando encontrar um refugio na toalha e conforme o sol ficava mais forte a fuga se tornava infrutifera e no meio do caminho elas secavam, fazendo cócegas na pele fina da menininha e deixando uma sensação estranha, como se quando separada do contato com a pequena gota uma parte de seu corpo tivesse sido levada junto... estranho
segunda-feira, 19 de abril de 2010
quarta-feira, 14 de abril de 2010
Gelatina
Era um dia estranho, os raios ainda fracos de um sol inesperado passavam pela copa das árvores dando ao bosque uma claridade verde, mas ainda assim fria, os raios matutinos começavam a secar o orvalho acumulado nas folhas durante a noite. Ela ainda estava muito ensonada, seus olhos inchados pedindo por mais descanso mas sabia de sua obrigação, não poderia fugir, alguns detalhes ainda precisavam ser resolvidos, pois no dia seguinte teria que ser forte e tomar decisões importante. Estava desatenta quando saiu do meio das árvores, o sol ofuscou seus olhos e assim que conseguiu enchergar de novo viu o que não devia, e sua perna virou uma gelatina, sua concentração antes tão afiada foi por água abaixo... estava tudo perdido!
sábado, 10 de abril de 2010
Fadinhas
Fadinhas brilhantes dançavam perto das árvores do bosque com o efeito visual de um pisca pisca, trazendo à menininha lembranças de um natal passado, numa época em que a magia estava em todos os lugares e não escondidas num guarda roupas. A cena se passava numa grande sala meio vazia com janelas tampadas por madeiras claras e iluminada por 3 lustres antigos diferentes, 12 pessoas conversavam fazendo eco pelas paredes. A árvore de natal enfeitada com bolas de vidro coloridas e anjinhos de madeira estava abarrotada de presentes de diferentes tamanhos e formatos, embrulhados em papéis encantados. A menininha via a si mesma anos antes, sentada no chão ao lado de uma grande caixa cor de rosa estampada com ursinhos e corações, o papel laminado do embrulho refletia seus olhos redondos e infantis brilhando numa expressão dolorosamente ansiosa, o cabelo caido em cachos loiros emolduravam seu rostinho pequeno. Os adultos conversavam despreocupados, fartos pela refeição, parecendo achar graça da reação daquela pequena, ao seu lado, talvez tão ansioso mas menos afobado, estava um menininho de traços estranhamente parecidos ao dela, seu cabelo e péle um pouco mais escuros, mas era fácil de notar a semelhança em seus olhos castanhos atentos a reação dos mais velhos. Em pouco tempo a aglomeração em torno do pequeno pinheiro foi o sinal que ela tanto esperava para descobrir o que havia por baixo daquelas folhas especiais. Oh. Como era bom observar tanta espontaneidade e felicidade suave, aparentemente fáceis de conseguir, emoções simples e muito verdadeiras. Uma linda boneca de cabelos loiros, do tamanho de um bebê de verdade entrava na cena, fazendo um sorriso radiante brotar de seus lábios vermelhos. De dentro da caixa, um mundo de imaginação estava sendo oferecido... a boneca numa roupa cor de rosa e um berço de madeira muito real tinham agora toda a atenção daquela criança. O menino, andava pela grande sala numa bicicleta novinha, tornando o espaço pequeno demais, os dois enchendo o ambiente com as risadas satisfeitas de todos que observavam... De volta ao presente ela sentia um calafrio de saudade, uma nostalgia contagiante... era natural e envolvente. A magia de uma lembrança colorida.... pensou ainda na facilidade com que esquecemos das coisas.
As fadinhas ainda dançavam quando ela adormeceu enrolada em pensamentos antigos.
As fadinhas ainda dançavam quando ela adormeceu enrolada em pensamentos antigos.
quarta-feira, 7 de abril de 2010
Rosas
Hoje Ela estava preguiçosamente espalhada no gramado, as folhinhas, sempre muito verdes estavam também agudas por causa do frio e pareciam estiletes afiados contra a péle exposta pelas brechas de seu vestido azul. Do seu lado esquerdo havia uma roseira bem alta onde quatro rosas de cores diferentes dividiam os rigidos galhos verdes e espinhosos, a maior e mais alta era laranja, seguinda por uma um pouco menor vermelha, outra amarela e uma minuscula rosinha roxa na parte mais baixa da roseira, cada uma tão unica e peculiar que horas passaram enquanto ela observava com atenção cada detalhe, ali do chão elas pareciam recortes brilhantes de uma revista cara coladas com esmero num espelho traslucido feito de nuvens compactas. Já do seu lado direito, uma pequena fonte fazia um barulho gelado e suave e ocasionalmente espirrava pérolas de gelo nela. Horas se passaram nesse ócio gostoso e confortável até que o dia foi ficando úmido e num rompante de idéias agarrou o lápis verde e flexível e algumas folhas em branco e desenhou tudo que estava na sua mente, sem ordem ou lógica reconheciveis, apenas espontaneidade.... ao fim de seu trabalho notou formas angulosas e felizes, desenhos soltos e dançantes... livres.
Jogou as folhas rabiscadas a um canto perdendo o interesse e se levantou, no ritmo frenético da fonte, dançando ao som de uma música imaginária, viajando em pensamentos distantes e aleatórios por horas até se perder no escuro azul da noite... Agora as únicas coisas audiveis eram as gotas...
Jogou as folhas rabiscadas a um canto perdendo o interesse e se levantou, no ritmo frenético da fonte, dançando ao som de uma música imaginária, viajando em pensamentos distantes e aleatórios por horas até se perder no escuro azul da noite... Agora as únicas coisas audiveis eram as gotas...
domingo, 14 de março de 2010
Pipoca
Foi pega de surpresa pela confusão no meio de um domingo ocioso, o filme na tela era complexo e prendeu a atenção da menininha. Ela estava cansada, dolorida e feliz sentada no sofá com um pote imenso e vermelho cheio de pipoca, estava tão mudada que mal se reconhecia, dos sentimentos antigos restaram a dúvida e a adoração silenciosa, era aceitável. Via as cenas sem entender muito bem a ordem das coisas e mais ou menos no meio do filme a verdade caiu sobre ela como um balde de água fria, um pouco de sua história se passava em sua frente em flashes coloridos, quanto mais os números mudavam no visor do dvd mais as coisas pareciam reais e palpáveis, apesar de toda a falta de lógica. o Casal romântico era completamente desconcertante. Um cara introspectivo, "problemático" e maluco loucamente envolvido no mundo paralelo de uma mulher facilmente entediável. Antigamente Ela acharia uma história impossível e inviável, um completo absurdo do cinema, mas hoje... era impossível negar o quanto aquilo fazia sentido, era um casal perfeito.
"Não consigo encontrar defeitos em você agora" disse ele, desesperado num apelo por compreensão.
"Mas um dia vc vai achar" no olhar um brilho lacrimoso "...e eu, sou completamente entediável, eu sempre fui assim!"
"Ok"
"Ok"
Seriam possíveis um milhão de finais para esse filme... Ela conseguia pensar somente em um.
"Não consigo encontrar defeitos em você agora" disse ele, desesperado num apelo por compreensão.
"Mas um dia vc vai achar" no olhar um brilho lacrimoso "...e eu, sou completamente entediável, eu sempre fui assim!"
"Ok"
"Ok"
Seriam possíveis um milhão de finais para esse filme... Ela conseguia pensar somente em um.
segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010
A bruxa e o bigode
O céu esta noite parecia um papel cinza com incríveis manchas de nankin, as nuvens negras rodeavam a lua deixando a rua escura como breu. A noite já ia avançada quando ela apareceu na esquina, quase correndo em direção a cidade, seu all star barulhento denunciava sua passagem na calçada molhada. Faltava pouco agora, já podia ver ao longe os portões da estação, fortemente iluminado por luzes incandescentes que serviam de palco para mil bichinhos noturnos minusculos e uma grande mariposa que batia na lâmpada com um barulho agourento.
Entrou. Já era tarde e apenas algumas pessoas esperavam o trem, todas em um estranho estado de alerta, meio atentas, meio perdidas em seus próprios problemas. Observando a pequena menininha passar por elas sem dar muita atenção, mas conscientes de sua presença... ela sentou num banco vazio agarrada a sua mochila colorida e começou a observar pequenos detalhes corriqueiros daquelas pessoas. Uma mulher gorda com sandália de plástico amarelo, uma outra, magra e desengonçada tentava dar conta de duas crianças adormecidas em seu colo, três homens de bermudas coloridas, um velhinho de boina.... Com um som estridente e distante um sino anunciava a chegada do trem, ela correu para um bom lugar da plataforma vazia, entrou pela sua porta de sempre sentando no banco de sempre, o vagão estava vazio exceto por um homem, velho e de aparencia peculiar. Sua pele era morena e mal tratada, como se a muito tempo fosse curtida ao sol sem muito cuidado e exibia um incrível bigode grisalho quase todo branco e um quepe muito alinhado de marinheiro. Suas roupas completavam a estranheza do homem como peças erradas de um quebra cabeça forçadas a se encaixar, uma camisa bege meio justa e de mangas curtas fazia par com uma calça marrom boca de sino um cinto com uma enorme fivela dourada e um sapato preto muito lustrado. Ela ainda estava observando o velho que provavelmente saiu de alguma história fantástica quando outra coisa chamou sua atenção: uma velha. Poucos segundos antes da porta fechar ela entrou, e junto com ela uma arrepio que nada tinha a ver com o ar condicionada levantou os cabelos da nuca da menininha. A velha era alta, magra e um pouco corcunda, uma cabeleira desgrenhada caia pela suas costas, seu queixo pontudo e suas entradas acentuadas davam a seu rosto o formato perfeito de um coração, e o nariz era grande e curvado como se não aguentasse o peso da grande verruga em sua ponta, olhos fundos e pretos, contornados por grandes olheiras roxas absorviam cada detalhe do ambiente e sua boca muito fina parecia apenas um risco de cor naquele rosto terrível. Ela estava coberta por uma capa preta que cobria todo seu corpo até o pé. A manga de sua roupa estava arregaçada, deixando a mostra uma espécie de tatuagem que cobria todo seu braço até o fim de seus longos dedos longos e cruéis e na outra mão ela carregava uma pequena bolsa de couro marrom marcada com os mesmo símbolos de seu braço. Mas, o que tornava a cena mais apavorante, a mulher segurava em sua mão livre uma garotinha de mais ou menos 5 anos e afundava suas unhas pretas em seu bracinho de uma forma aparentemente dolorosa. A velha olhou para a menininha que rapidamente desviou o olhar, agarrou sua mochila e inquieta e preocupada se encolheu em seu assento próximo a janela observando a mulher (que mais parecia uma bruxa) e a criança sentada em seu colo, numa discrepancia de informações. Ela não sabia o que fazer, olhava para o velho esquisito esperando dele alguma atitude... a tensão dominou o vagão, agora em movimento... ele lia atendo um livro grosso de capa verde... ela estava sozinha em suas supeitas e nada podia fazer senão esperar, atordoada por parecer estar perdida no meio de uma história fantástica.
Entrou. Já era tarde e apenas algumas pessoas esperavam o trem, todas em um estranho estado de alerta, meio atentas, meio perdidas em seus próprios problemas. Observando a pequena menininha passar por elas sem dar muita atenção, mas conscientes de sua presença... ela sentou num banco vazio agarrada a sua mochila colorida e começou a observar pequenos detalhes corriqueiros daquelas pessoas. Uma mulher gorda com sandália de plástico amarelo, uma outra, magra e desengonçada tentava dar conta de duas crianças adormecidas em seu colo, três homens de bermudas coloridas, um velhinho de boina.... Com um som estridente e distante um sino anunciava a chegada do trem, ela correu para um bom lugar da plataforma vazia, entrou pela sua porta de sempre sentando no banco de sempre, o vagão estava vazio exceto por um homem, velho e de aparencia peculiar. Sua pele era morena e mal tratada, como se a muito tempo fosse curtida ao sol sem muito cuidado e exibia um incrível bigode grisalho quase todo branco e um quepe muito alinhado de marinheiro. Suas roupas completavam a estranheza do homem como peças erradas de um quebra cabeça forçadas a se encaixar, uma camisa bege meio justa e de mangas curtas fazia par com uma calça marrom boca de sino um cinto com uma enorme fivela dourada e um sapato preto muito lustrado. Ela ainda estava observando o velho que provavelmente saiu de alguma história fantástica quando outra coisa chamou sua atenção: uma velha. Poucos segundos antes da porta fechar ela entrou, e junto com ela uma arrepio que nada tinha a ver com o ar condicionada levantou os cabelos da nuca da menininha. A velha era alta, magra e um pouco corcunda, uma cabeleira desgrenhada caia pela suas costas, seu queixo pontudo e suas entradas acentuadas davam a seu rosto o formato perfeito de um coração, e o nariz era grande e curvado como se não aguentasse o peso da grande verruga em sua ponta, olhos fundos e pretos, contornados por grandes olheiras roxas absorviam cada detalhe do ambiente e sua boca muito fina parecia apenas um risco de cor naquele rosto terrível. Ela estava coberta por uma capa preta que cobria todo seu corpo até o pé. A manga de sua roupa estava arregaçada, deixando a mostra uma espécie de tatuagem que cobria todo seu braço até o fim de seus longos dedos longos e cruéis e na outra mão ela carregava uma pequena bolsa de couro marrom marcada com os mesmo símbolos de seu braço. Mas, o que tornava a cena mais apavorante, a mulher segurava em sua mão livre uma garotinha de mais ou menos 5 anos e afundava suas unhas pretas em seu bracinho de uma forma aparentemente dolorosa. A velha olhou para a menininha que rapidamente desviou o olhar, agarrou sua mochila e inquieta e preocupada se encolheu em seu assento próximo a janela observando a mulher (que mais parecia uma bruxa) e a criança sentada em seu colo, numa discrepancia de informações. Ela não sabia o que fazer, olhava para o velho esquisito esperando dele alguma atitude... a tensão dominou o vagão, agora em movimento... ele lia atendo um livro grosso de capa verde... ela estava sozinha em suas supeitas e nada podia fazer senão esperar, atordoada por parecer estar perdida no meio de uma história fantástica.
domingo, 21 de fevereiro de 2010
Retângulos
As cores suaves e iluminadas no retângulo infinito a sua frente pouco importavam agora, retângulos menores piscavam em laranja, tentando chamar sua atenção para coisas banais, problemas passageiros, curiosidades fúteis, coisas que ela não queria mais saber... um apenas prometia conforto e solução, e outro deles, o mais importante mostrava apenas aquilo que ela mais queria ver, o que esperou por semanas, incansavelmente. Com efeito seu estômago desmoronou, uma dormencia completamente dominadora percorria seu corpo, uma surdez involuntária tirava sua atenção das coisas à volta com um zumbido permanente em seu ouvido, seu coração dilacerado parecia não saber mais sua função. Ela lia cada palavra escrita em verde bebendo o seu conteúdo com certa veneração, esperando o momento em que colocaria em questão aquilo que guardou por longas semanas, não sabia bem como começar, esperaria o melhor momento. Era imprescindível dizer, dizer para saber... tão essencial quanto a dor maravilhosamente cruel e agradável provocada por tal situação, que agora, loucamente, fazia parte da sua rotina e mantinha seu corpo em constante estado de alerta. Nenhum remédio poderia trazer a normalidade as suas ações, não queria mais ouvir conselhos infrutíferos e leigos sobre coisas dela que a própria menininha não dominava... esperou que o tempo atropelasse a ansiedade, que as sensações se amenizassem mas o efeito foi contrário e a confusão era protagonista em sua gama de enfermidades. Entre linhas verdes e roxas num espiral de distrações ela perdeu a coragem, recuou diante de sua decisão, não conseguia contrariar seus receios e seus pensamentos cruéis, sua força deu lugar a mais dor e a mais dormencias, era quase incontrolável... os retângulos laranjas estavam furiosos agora, reclamando sua presença e aquele único que ela estava realmente presente agora estava apagado, cinza e sem vida deixando ela em meio a cólicas torturantes por sua falta de força, por sua falta de ação... com sorte em algumas horas ela se acostumaria com o incômodo tempo suficiente para esquecê-lo por alguns minutos...
segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010
Flocos
"Oh". Exclamou a menininha ao ver os primeiros flocos de neve da sua vida caindo como pontos de luz por todo aquele lugar incrível. Nunca havia acontecido nada parecido, o frio era intenso, o dia claro... quase branco e o vento cortava seu rosto como a lamina aguda de uma faca bem afiada em quanto ela voava para frente e para tras agarrada nas correntes frias de sua balança vermelha, era uma sensação surpreendente. De repente, como se uma força invesivel estivesse agindo sobre a menininha ela parou, afundou seus pés na terra vermelha ainda exposta sob a balança e olhou para o céu, a luz era dolorosa e infinita, a claridade branca fez com que tudo ali mudasse de cor, ficasse mais pálido, um pouco menos brilhante. ainda sentada, ela prestou atenção em cada floco que caia nela se apegando aos minimos detalhes e concluiu que como nos contos de fadas cada floco é único e mágico. Depois ede alguns minutos la começou a tremer de frio, até que as correntes da balança começaram a acompanhar seu ritmo frenético fazendo uma barulho metálico muito agradável... ela esfregou as mãos, tentando sem muito sucesso se aquecer. Lembrou da antiga caixinha de musica guardada no seu bolso. Pegou, deu corda, abriu e colocou a pequena bailarina perolada no minusculo palco de espelho, girando com a música. Ouviu a música até ficar perdida em pensamentos passou pelos minutos desligada de tudo a sua volta, esqueceu do frio, da neve, de tudo, só voltou ao presente quando um pequeno floco de neve caiu dentro da caixinha e assim que tocou sua superfície aveludada derreteu formando um pequeno círculo molhado, e depois um segundo circulo se juntou ao primeiro...
quinta-feira, 28 de janeiro de 2010
Riscos de sal
O tempo estava horrível... a chuva caia em pingos grossos, quase dolorosos de nuvens roxas que cobriam todo o céu, até o horizonte infinito. O único barulho ali vinha da tempestade batendo violentamente contra tudo o que estava em seu caminho, o gramado brilhava com um efeito hipnótico exalando um cheiro incrivelmente fresco e natural, e o pequeno bosque sombrio, lá longe, parecia se afogar sob aquele volume impossível de água. Mas ela estava abrigada, num coreto pequenino e muito complexo. Seis pilares ornamentados com formas assimétricas fundidas em ferro sustentavam um incrível docel azul marinho salpicado de milhões de estrelas com um brilho sutil e inexplicavel... era lindo, mas não aos olhos da pequena, ela estava completamente alheia a tudo isso, distraida em sua confusão, com uma expressão estranha agarrou seu ursinho marrom fazendo de seus bracinhos frágeis uma prisão inviolável. Afundou seu rosto riscado de sal na pelúcia macia e ficou prestando atenção na sua respiração, no cheiro de infância que invadio seus pulmões, nas lembranças que enchiam sua mente tornando impossível qualquer ação racional, ela estava presa num ciclo do qual não conseguia se livrar. Um vento repentino pegou a menininha de surpresa levando até ela respingos de chuva e com a eficiencia de um anzol foi puxada de seus devaneios, ela se sentiu acordada, alerta, abriu a mão direita antes fechada em punho e de dentro a fita de cetim vermelha se desenrolou ficando quase solta ao vento, ela à alisou com muito cuidado e com a mesma atenção amarrou no ursinho com um laço bem feito. Admirou sua arte por alguns minutos e outra lágrima pulou de seus olhos sem convite, acrescentando mais riscos de sal em seu rosto perfetamente branco.
”Deve existir algo estranhamente sagrado no sal: está em nossas lágrimas e no mar...” (Khalil Gibran)
”Deve existir algo estranhamente sagrado no sal: está em nossas lágrimas e no mar...” (Khalil Gibran)
sexta-feira, 22 de janeiro de 2010
Plano
Aquela sensação era incrível, Ela estava eufórica, frenética, esperando que aquilo tudo desse certo, seu rosto estava branco como giz, seus lábios rachados, e ela suava frio, parecia prestes a surtar. Sabia muito bem que aquele era um plano muito falho, que muitas partes não faziam sentido e que outras tantas poderiam dar errado mas precisava encontrar alguma coisa, encontrar o que estava tentando ser ou o que estava tentando deixar de ser e somente no seu armário isso seria possível, ela sumiria deixaria todos para traz pelo tempo que fosse necessário, pensaria, choraria, gritaria, correria... qualquer coisa que fosse necessária para sua recuperação. Ela voltaria inteira novamente e com um objetivo fixo e inquestionável ou então, não voltaria. Tomaria uma decisão e só largaria dela quando tudo estivesse acabado definitivamente, decidira mudar, então era isso que ela faria, não se renderia mais a suas fraquesas, elas deveriam se tornar sua força, não esperaria mais pelos outros, se necessário fosse deixaria todos para traz!
Estava certa em toda a sua incerteza e com uma grande mochila verde nas costas, estufada com sua bagagem estraordinária seguiu rumo a porta tão familiar e convidativa de seu armário...
Estava certa em toda a sua incerteza e com uma grande mochila verde nas costas, estufada com sua bagagem estraordinária seguiu rumo a porta tão familiar e convidativa de seu armário...
quinta-feira, 14 de janeiro de 2010
Detalhes
A sala era comprida, clara e arejada apesar de apenas duas das 6 imensas janelas de madeira estarem abertas. Era também incomum pois metade dela era um pequeno estúdio improvisado. Ela se sentou. Só conseguia pensar na loucura da noite passada, como pôde? Ela traiu as promessas que fez a si mesma. Não era mais confiável. O pânico tomou seu corpo, ela tinha que se acalmar, tentou ler mas não prestou atenção em nenhuma palavra escrita na folha amarelada do livro, começou então a gravar cada centimetro da sala: as cortinas pretas até o chão, o papel de seda também preto grudado com durex nos vidros para impedir a luz, o chaveiro cilindrico de madeira na porta, a porta, os lustres antiquados para a arquitetura antiga, os canhões de luz espalhados pelo teto com suas laminas coloridas, a coxia e as paredes pretas do estúdio. Levantou. Explorou brechas nas paredes e fundos falsos, se sentiu curiosa como se estivesse conhecendo um palco novo em que dançaria mais tarde. Observou desatenta uma estante de ferro com prateleiras vazias e nomeadas, meio escondida, leu apenas uma das etiquetas com nome: Romance. Aquilo embrulhou seu estomago. Sentou novamente. Passou um tempo indefinido olhando pela linda janela ao seu lado sem nada ver. Ouviu chamarem seu nome e saiu da sala seguindo por um corredor adornado com vitrais coloridos que cintilavam sob luz do sol matutino, agora estava prestes a cair num ataque de nervos, eram muitas coisas juntas com as quais se preocupar.
Porque ela tinha que ter feito aquilo noite passada?
Porque ela tinha que ter feito aquilo noite passada?
sábado, 9 de janeiro de 2010
Inesperado

O sol apareceu muito cedo naquele dia, seus raios fortes e muito brilhantes encheram de luz aqueles lindos olhos amarelos acostumados com o escuro da noite. O gramado verde esmeralda celebrava essa acontecimento, cada folhinha, por menor que fosse brilhava como se fosse uma jóia muito valiosa exposta a luz forte, e sua imensidão era completamente reconfortante. Ela andou por ele, com os pés descalços sentindo a energia e o aroma da grama quente, a balança vermelho sangue e enferrujada estava parada silênciosamente, mas mesmo assim parecia majestosa e imponente em contraste com tudo a sua volta, até o bosque sombrio e gelado se rendeu ao explendor daquele magnifico dia. A menininha andou por horas até chegar ao fim, onde outra cena de tirar o fôlego se formava, com uma perfeição inacreditável o gramado chegava ao seu limite gradativamente e em seu lugar uma areia muito branca começava a ocupar o espaço tornando o dia ainda mais claro, muito pálido, e em seguida uma imensidão azul profundo riscada de traços branco perolado dava a toda aquela cena uma incrível sensação de sonho. Era uma linda praia, "incrível" ela disse baixinho. Assim que seus pés alcançaram a areia ela sentia uma textura macia e granulada tocando sua pele, era muito fina, muito delicada. Continuou caminhando, não conseguia tirar os olhos daquele mar, era convidativo. No caminho algo a sua esquerda chamou atenção por breves segundos era um pequeno castelo de areia com lindas bandeirinhas verdes tremulando sobre as torres e ao lado o balde vermelho e a pá azul usados na construção, sua atenção novamente ocilou quando a textura sob seus pés mudou, era mais firme agora, mais grossa e muito mais fria, estava muito próxima da água pôde sentir ela molhando seus dedos suavemente e um arrepio muito fresco percorreu suas pernas, ela avançou um pouco mais para a imensidão azul, era hipinótica, atraente. assim que conseguiu se libertar da distração outra coisa chamou sua atenção, era um tronco mtu grande caido na praia, metade dele, o que fora sua copa estava na água cortantando o caminho perfeito das ondas, ela olhou a sua volta procurando o lugar de onde aquela árvore poderia ter vindo, nada lhe ocorreu, como então ela poderia ter chegado até aquele lugar perfeito? Não fazia sentido.Ela afastou esses pensamentos infrutíferos de sua mente e se aconchegou no tronco, encostando em suas raízes e como se um ventilador fosse ligado na velocidade máxima diante dela o vento soprou, vindo do mar e agitando seus cabelos... ahhhh o verão.
Ilustração: Helô Paschon
sexta-feira, 1 de janeiro de 2010
Virada

A pequena menininha estava pronta para sair, passaria a virada do ano fora de seu armário protetor como havia prometido a si mesma. Não estava realmente preocupada com a roupa que usaria, assim resolveu seguir a tradição e se entregar ao óbvio, uma bela blusa branca se camuflava levemente em sua péle clara, hoje um pouco rosada pela maquiagem. Ela estava ofuscante, linda.
O momento chegou, rapidamente ela se despediu de seu porto seguro e foi ao encontro daqueles que estariam com Ela durante a noite. O clima estava bom, um pouco temperamental e frio para suas roupas leves, mas ainda assim agradável. Uma esperança nova estava no ar, Ela tinha uma boa sensação sobre o ano que entrava, poderia ser apenas o efeito da data, aquela energia contagiante que envolve as pessoas, mas um palpite muito forte dizia que algo mais esperava por ela, em algum lugar próximo.
Logo encontrou seu caminho ao lado de mais 3 pessoas, duas moças e um rapaz, todos tão incriveis quanto ela e igualmente diferentes entre si mas de alguma forma usando isso a seu favor, todos juntos, rindo. Nossa! Era inacreditavelmente fácil rir, bom. A ansiedade era sólida no grupo, todos estavam frenéticos para o desenrolar desconhecido daquele encontro incomum. Durante a festa, tudo eram cores e formas se misturando numa textura incrível que ocasionalmente se dissolvia numa garoa tão fina que pinicava a pele e aos olhos dela, tão acostumados com as cores brilhantes de seu armário, parecia somente alegria. Brincadeiras leves envolviam aquele grupo, facilmente misturados àquele quadro improvisado, pintado com cores vivas e uma boa dose de branco. Uma brincadeira com moedinhas muito pequenas e douradas intensificou a interação dela com as pessoas a sua volta, desconhecidos que estavam ali, procurando pelo mesmo que aquela pequena incomum: alegria. A contagem regressiva foi o que bastou para juntar aqueles milhões de pessoas num uníssono perfeito e foi o que tornou toda aquela esperança e aquele palpite muito óbvios agora, estava claro. 10-9-8-7-6-5-4-3-2-1. BAMM. Uma explosão de vivas, de comprimentos, de abraços, é claro a felicidade, impossível não reconhecer, tudo isso encheu o ar com uma euforia contagiante. Fogos de artifício multicoloridos e muito papel picado, brilhantes como mil pedacinhos de espelhos cairam do céu enchendo os olhos de toda aquela gente, unidos pela fé, fé em qualquer coisa, mas fé. Logo o pequeno grupo estava junto num único abraço, completamente envolvidos pela sensação. Era um cena única, admirável.
E como se apenas isso não fosse o suficiente para preencher toda uma vida de comemorações o inacreditável aconteceu, e como foi bom. Foi... simplesmente... mágico!
Um olhar, um sorriso, um abraço e a chuva...Ela com certeza passaria pela vida sem nunca se esquecer dessa noite, deste momento mínimo e talvez insignificante aos olhos de qualquer outro.
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