domingo, 13 de junho de 2010
Fagulhas
O dia estava congelante, tão frio que seus pés e mãos ardiam judiados pelo vento que varria a pequena clareira forrada de folhas marrons e quebradiças. Já estava escuro apesar de ser cedo e algumas estrelas já apontavam no céu trazendo uma noite prematura. O riacho borbulhava feliz em algum lugar perto dali, um barulho fresco e fluido que dava a noite uma trilha sonora gélida. Levantou do tronco que usava de banco, provavelmente de alguma árvore seca derrubada pelo vento cruel que recentemente não dava trégua, e saiu em busca de gravetos para uma fogueira, a escuridão não permitia que ela fosse muito longe sem se perder, então se orientando pela fraca claridade da clareira, fruto das estrelas e da lua minguante no céu. Depois de algum tempo jah tinha uma boa quantidade de madeira e com auxilio de um esqueiro e uns pedaços de jornal acendeu a fogueira exatamente no centro do lugar. O fogo, laranja vivo, hipnotizou a menininha. As labaredas lambiam a madeira consumindo rapidamente como se estivesse com fome pequenas fagulhas se soltavam e se perdiam no ar junto com a fumaça, era inebriante observar. A menininha se acomodou graciosamente bem perto da fogueira e agarrada as suas pernas cantarolou músicas sem nenhuma ordem lógica, apenas as que vinham em sua mente aleatoriamente. Pensou nas mil coisas que sentia falta, em outras mil que o tempo levou de sua vida, nas perdas dolorosas e nos afastamentos necessários, nos momentos que gostaria de reviver e naqueles que gostaria de esquecer. Pensou nas pessoas, todas elas. E em meio a colicas de saudade acordou de seus devaneios. A fogueira estava reduzida a brasas incandescentes, uma ou outra chama apenas havia conseguido resistir, agarrada em algum graveto. Ela se acomodou encolhida perto das fogueira quase estinta agora, aproveitando seus ultimos suspiros de calor e ali, aconchegada nas folhas se enroscou num sono profundo e tranquilo, pontuado por alguns sonhos já comuns.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário