quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Riscos de sal

O tempo estava horrível... a chuva caia em pingos grossos, quase dolorosos de nuvens roxas que cobriam todo o céu, até o horizonte infinito. O único barulho ali vinha da tempestade batendo violentamente contra tudo o que estava em seu caminho, o gramado brilhava com um efeito hipnótico exalando um cheiro incrivelmente fresco e natural, e o pequeno bosque sombrio, lá longe, parecia se afogar sob aquele volume impossível de água. Mas ela estava abrigada, num coreto pequenino e muito complexo. Seis pilares ornamentados com formas assimétricas fundidas em ferro sustentavam um incrível docel azul marinho salpicado de milhões de estrelas com um brilho sutil e inexplicavel... era lindo, mas não aos olhos da pequena, ela estava completamente alheia a tudo isso, distraida em sua confusão, com uma expressão estranha agarrou seu ursinho marrom fazendo de seus bracinhos frágeis uma prisão inviolável. Afundou seu rosto riscado de sal na pelúcia macia e ficou prestando atenção na sua respiração, no cheiro de infância que invadio seus pulmões, nas lembranças que enchiam sua mente tornando impossível qualquer ação racional, ela estava presa num ciclo do qual não conseguia se livrar. Um vento repentino pegou a menininha de surpresa levando até ela respingos de chuva e com a eficiencia de um anzol foi puxada de seus devaneios, ela se sentiu acordada, alerta, abriu a mão direita antes fechada em punho e de dentro a fita de cetim vermelha se desenrolou ficando quase solta ao vento, ela à alisou com muito cuidado e com a mesma atenção amarrou no ursinho com um laço bem feito. Admirou sua arte por alguns minutos e outra lágrima pulou de seus olhos sem convite, acrescentando mais riscos de sal em seu rosto perfetamente branco.

”Deve existir algo estranhamente sagrado no sal: está em nossas lágrimas e no mar...” (Khalil Gibran)

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