O tempo estava horrível... a chuva caia em pingos grossos, quase dolorosos de nuvens roxas que cobriam todo o céu, até o horizonte infinito. O único barulho ali vinha da tempestade batendo violentamente contra tudo o que estava em seu caminho, o gramado brilhava com um efeito hipnótico exalando um cheiro incrivelmente fresco e natural, e o pequeno bosque sombrio, lá longe, parecia se afogar sob aquele volume impossível de água. Mas ela estava abrigada, num coreto pequenino e muito complexo. Seis pilares ornamentados com formas assimétricas fundidas em ferro sustentavam um incrível docel azul marinho salpicado de milhões de estrelas com um brilho sutil e inexplicavel... era lindo, mas não aos olhos da pequena, ela estava completamente alheia a tudo isso, distraida em sua confusão, com uma expressão estranha agarrou seu ursinho marrom fazendo de seus bracinhos frágeis uma prisão inviolável. Afundou seu rosto riscado de sal na pelúcia macia e ficou prestando atenção na sua respiração, no cheiro de infância que invadio seus pulmões, nas lembranças que enchiam sua mente tornando impossível qualquer ação racional, ela estava presa num ciclo do qual não conseguia se livrar. Um vento repentino pegou a menininha de surpresa levando até ela respingos de chuva e com a eficiencia de um anzol foi puxada de seus devaneios, ela se sentiu acordada, alerta, abriu a mão direita antes fechada em punho e de dentro a fita de cetim vermelha se desenrolou ficando quase solta ao vento, ela à alisou com muito cuidado e com a mesma atenção amarrou no ursinho com um laço bem feito. Admirou sua arte por alguns minutos e outra lágrima pulou de seus olhos sem convite, acrescentando mais riscos de sal em seu rosto perfetamente branco.
”Deve existir algo estranhamente sagrado no sal: está em nossas lágrimas e no mar...” (Khalil Gibran)
quinta-feira, 28 de janeiro de 2010
sexta-feira, 22 de janeiro de 2010
Plano
Aquela sensação era incrível, Ela estava eufórica, frenética, esperando que aquilo tudo desse certo, seu rosto estava branco como giz, seus lábios rachados, e ela suava frio, parecia prestes a surtar. Sabia muito bem que aquele era um plano muito falho, que muitas partes não faziam sentido e que outras tantas poderiam dar errado mas precisava encontrar alguma coisa, encontrar o que estava tentando ser ou o que estava tentando deixar de ser e somente no seu armário isso seria possível, ela sumiria deixaria todos para traz pelo tempo que fosse necessário, pensaria, choraria, gritaria, correria... qualquer coisa que fosse necessária para sua recuperação. Ela voltaria inteira novamente e com um objetivo fixo e inquestionável ou então, não voltaria. Tomaria uma decisão e só largaria dela quando tudo estivesse acabado definitivamente, decidira mudar, então era isso que ela faria, não se renderia mais a suas fraquesas, elas deveriam se tornar sua força, não esperaria mais pelos outros, se necessário fosse deixaria todos para traz!
Estava certa em toda a sua incerteza e com uma grande mochila verde nas costas, estufada com sua bagagem estraordinária seguiu rumo a porta tão familiar e convidativa de seu armário...
Estava certa em toda a sua incerteza e com uma grande mochila verde nas costas, estufada com sua bagagem estraordinária seguiu rumo a porta tão familiar e convidativa de seu armário...
quinta-feira, 14 de janeiro de 2010
Detalhes
A sala era comprida, clara e arejada apesar de apenas duas das 6 imensas janelas de madeira estarem abertas. Era também incomum pois metade dela era um pequeno estúdio improvisado. Ela se sentou. Só conseguia pensar na loucura da noite passada, como pôde? Ela traiu as promessas que fez a si mesma. Não era mais confiável. O pânico tomou seu corpo, ela tinha que se acalmar, tentou ler mas não prestou atenção em nenhuma palavra escrita na folha amarelada do livro, começou então a gravar cada centimetro da sala: as cortinas pretas até o chão, o papel de seda também preto grudado com durex nos vidros para impedir a luz, o chaveiro cilindrico de madeira na porta, a porta, os lustres antiquados para a arquitetura antiga, os canhões de luz espalhados pelo teto com suas laminas coloridas, a coxia e as paredes pretas do estúdio. Levantou. Explorou brechas nas paredes e fundos falsos, se sentiu curiosa como se estivesse conhecendo um palco novo em que dançaria mais tarde. Observou desatenta uma estante de ferro com prateleiras vazias e nomeadas, meio escondida, leu apenas uma das etiquetas com nome: Romance. Aquilo embrulhou seu estomago. Sentou novamente. Passou um tempo indefinido olhando pela linda janela ao seu lado sem nada ver. Ouviu chamarem seu nome e saiu da sala seguindo por um corredor adornado com vitrais coloridos que cintilavam sob luz do sol matutino, agora estava prestes a cair num ataque de nervos, eram muitas coisas juntas com as quais se preocupar.
Porque ela tinha que ter feito aquilo noite passada?
Porque ela tinha que ter feito aquilo noite passada?
sábado, 9 de janeiro de 2010
Inesperado

O sol apareceu muito cedo naquele dia, seus raios fortes e muito brilhantes encheram de luz aqueles lindos olhos amarelos acostumados com o escuro da noite. O gramado verde esmeralda celebrava essa acontecimento, cada folhinha, por menor que fosse brilhava como se fosse uma jóia muito valiosa exposta a luz forte, e sua imensidão era completamente reconfortante. Ela andou por ele, com os pés descalços sentindo a energia e o aroma da grama quente, a balança vermelho sangue e enferrujada estava parada silênciosamente, mas mesmo assim parecia majestosa e imponente em contraste com tudo a sua volta, até o bosque sombrio e gelado se rendeu ao explendor daquele magnifico dia. A menininha andou por horas até chegar ao fim, onde outra cena de tirar o fôlego se formava, com uma perfeição inacreditável o gramado chegava ao seu limite gradativamente e em seu lugar uma areia muito branca começava a ocupar o espaço tornando o dia ainda mais claro, muito pálido, e em seguida uma imensidão azul profundo riscada de traços branco perolado dava a toda aquela cena uma incrível sensação de sonho. Era uma linda praia, "incrível" ela disse baixinho. Assim que seus pés alcançaram a areia ela sentia uma textura macia e granulada tocando sua pele, era muito fina, muito delicada. Continuou caminhando, não conseguia tirar os olhos daquele mar, era convidativo. No caminho algo a sua esquerda chamou atenção por breves segundos era um pequeno castelo de areia com lindas bandeirinhas verdes tremulando sobre as torres e ao lado o balde vermelho e a pá azul usados na construção, sua atenção novamente ocilou quando a textura sob seus pés mudou, era mais firme agora, mais grossa e muito mais fria, estava muito próxima da água pôde sentir ela molhando seus dedos suavemente e um arrepio muito fresco percorreu suas pernas, ela avançou um pouco mais para a imensidão azul, era hipinótica, atraente. assim que conseguiu se libertar da distração outra coisa chamou sua atenção, era um tronco mtu grande caido na praia, metade dele, o que fora sua copa estava na água cortantando o caminho perfeito das ondas, ela olhou a sua volta procurando o lugar de onde aquela árvore poderia ter vindo, nada lhe ocorreu, como então ela poderia ter chegado até aquele lugar perfeito? Não fazia sentido.Ela afastou esses pensamentos infrutíferos de sua mente e se aconchegou no tronco, encostando em suas raízes e como se um ventilador fosse ligado na velocidade máxima diante dela o vento soprou, vindo do mar e agitando seus cabelos... ahhhh o verão.
Ilustração: Helô Paschon
sexta-feira, 1 de janeiro de 2010
Virada

A pequena menininha estava pronta para sair, passaria a virada do ano fora de seu armário protetor como havia prometido a si mesma. Não estava realmente preocupada com a roupa que usaria, assim resolveu seguir a tradição e se entregar ao óbvio, uma bela blusa branca se camuflava levemente em sua péle clara, hoje um pouco rosada pela maquiagem. Ela estava ofuscante, linda.
O momento chegou, rapidamente ela se despediu de seu porto seguro e foi ao encontro daqueles que estariam com Ela durante a noite. O clima estava bom, um pouco temperamental e frio para suas roupas leves, mas ainda assim agradável. Uma esperança nova estava no ar, Ela tinha uma boa sensação sobre o ano que entrava, poderia ser apenas o efeito da data, aquela energia contagiante que envolve as pessoas, mas um palpite muito forte dizia que algo mais esperava por ela, em algum lugar próximo.
Logo encontrou seu caminho ao lado de mais 3 pessoas, duas moças e um rapaz, todos tão incriveis quanto ela e igualmente diferentes entre si mas de alguma forma usando isso a seu favor, todos juntos, rindo. Nossa! Era inacreditavelmente fácil rir, bom. A ansiedade era sólida no grupo, todos estavam frenéticos para o desenrolar desconhecido daquele encontro incomum. Durante a festa, tudo eram cores e formas se misturando numa textura incrível que ocasionalmente se dissolvia numa garoa tão fina que pinicava a pele e aos olhos dela, tão acostumados com as cores brilhantes de seu armário, parecia somente alegria. Brincadeiras leves envolviam aquele grupo, facilmente misturados àquele quadro improvisado, pintado com cores vivas e uma boa dose de branco. Uma brincadeira com moedinhas muito pequenas e douradas intensificou a interação dela com as pessoas a sua volta, desconhecidos que estavam ali, procurando pelo mesmo que aquela pequena incomum: alegria. A contagem regressiva foi o que bastou para juntar aqueles milhões de pessoas num uníssono perfeito e foi o que tornou toda aquela esperança e aquele palpite muito óbvios agora, estava claro. 10-9-8-7-6-5-4-3-2-1. BAMM. Uma explosão de vivas, de comprimentos, de abraços, é claro a felicidade, impossível não reconhecer, tudo isso encheu o ar com uma euforia contagiante. Fogos de artifício multicoloridos e muito papel picado, brilhantes como mil pedacinhos de espelhos cairam do céu enchendo os olhos de toda aquela gente, unidos pela fé, fé em qualquer coisa, mas fé. Logo o pequeno grupo estava junto num único abraço, completamente envolvidos pela sensação. Era um cena única, admirável.
E como se apenas isso não fosse o suficiente para preencher toda uma vida de comemorações o inacreditável aconteceu, e como foi bom. Foi... simplesmente... mágico!
Um olhar, um sorriso, um abraço e a chuva...Ela com certeza passaria pela vida sem nunca se esquecer dessa noite, deste momento mínimo e talvez insignificante aos olhos de qualquer outro.
Assinar:
Postagens (Atom)