terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Ela?

Em um momento sutil de sua religiosa rotina a menininha parou por um segundo diante daqueles cabelos vermelhos e a figura excêntrica a sua frente fez brotar pensamentos e sentimentos novos dentro dela. Se deu conta que em sua busca constante por ser alguma coisa que enchesse seus próprios olhos de admiração se perdeu em atitudes que não eram dela e tão pouco a satisfaziam em sua vontade de ser alguma coisa. Na tentativa constante de abafar seus próprios desejos para desejar o que achava que deveria notou que era exatamente o que era, uma tentativa de ser alguma coisa.
Queria ser amelie, Rita, queria ser forte para ter coragem e acima de tudo queria coragem para assumir sua falta de coragem e entre todo esse querer ela era apenas ela querendo o que queria.... e querer tudo isso tornava ela, Ela.





A autenticidade das coisas está no que acreditamos ser verdadeiro.

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Retorno

A sensação de nostalgia era contagiante, após tanto tempo Ela estava de volta, precisando como nunca do conforto de si mesma, dos dias frios e ensolarados, ou nublados e abafados, cheio de ventanias e fadas. Do rangido da velha balança. De tudo.
O gramado estava verde esmeralda, brilhante, como o deixara quando saiu pela última vez, visto durante o intervalo por breves vislumbres saudosos e cheios de adoração. Agora que estava de volta percebeu o tamanho da saudade que sentiu durante sua ausência, e o tamanho da importância daquele mundo em sua pequena vida.
Muitas coisas mudaram desde a última vez em que ela esteve solta em tanta magia, estava um pouco cansada agora, e foi no momento em que se aconchegou na sua balança enferrujada que ouviu as primeiras notas de uma melodia familiar e tranquilizadora... sua velha caixínha de música prateada estava lá, mas a bailarina dentro dela estava caida, tombada em algum momento de sua dança eterna e sem poder se levantar ficou ali a espera de ajuda. A menininha levantou de onde estava e sentou no chão macio ao lado da caixinha. Observou. Pensou. Tomou o pequeno objeto em suas mão deu corda e colocou a bailarina onde ela realmente deveria ficar - no centro do pequeno palco - girando, girando.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Borboletas

Entre nuvens diáfanas e estrelas prateadas a noite estava linda, o veludo negro que se estendia sob a menininha montava com capricho o cenário para a sua euforia. A balança vermelha, encarregada de embalar seus sonhos acordados, balançava suavemente com um rangido baixo que nem por um momento conseguiu tirar ela de seu foco. Seus olhos brilhavam com as possibilidades, coisas que pareciam fáceis e deliciosas demais de realizar, no seu estomago as borboletas da espectativa dançavam deixando um mal estar bem vindo. Horas indistintas passaram enquanto ela ficava ali, meditando sobre sua vida, suas oportunidades, suas chances - aproveitadas ou não.
o que ela queria realmente? Ficava cada dia mais dificil de saber. Não poderia deixar para traz o que conquistou, era bom demais... mas como então renegar o que ela realmente queria? queria mesmo??

sábado, 26 de junho de 2010

Soluço

Sonhos... sonhos. Estava farta disso. A cada noite uma traição involuntária e desagradável a sua própria promessa. As imagens em tons desbotados de filme antigo enchiam sua mente com imagens distintas. Cenas eufóricas, felizes, impossíveis se passavam diante de seus olhos com uma realidade brutal e desconcertante. Era um sonho completo e a menininha viveu ele a cada suspiro envolvida pela veracidade de suas ilusões. Ilusões forçadas que ela tentava afastar de si. Imagens soltas passavam diante de seus olhos, arrancando lágrimas indesejadas que escorriam soltas por seu rosto pálido, agora quase translucido. E foi um soluço carregado de lamento que tirou ela desse transe, o travasseiro molhado por horas seguidas de suas lágrimas e seu sofrimento contido.

sábado, 19 de junho de 2010

Craquelado

Ela gostava dos primeiros dias do inverno, quando a árvore mais comprida de seu grande gramado libertava as folhas finas, a essa altura muito secas e quebradissas. Tudo num raio de 10 metros da árvore ficava pintado em vários tons de marrom, e ela, num prazer inocente e verdadeiro pisava nas folhas com calma e precisão, se deliciando com toda a sensação envolvida. O barulho seco e craquelado, a textura do momento era uma coisa fora do real, como se um segundo se transformasse em horas e cada pedacinho de folha se partindo era particularmente especial e único. Um ato quase bobo, um tolice particular e agradável.

domingo, 13 de junho de 2010

Fagulhas

O dia estava congelante, tão frio que seus pés e mãos ardiam judiados pelo vento que varria a pequena clareira forrada de folhas marrons e quebradiças. Já estava escuro apesar de ser cedo e algumas estrelas já apontavam no céu trazendo uma noite prematura. O riacho borbulhava feliz em algum lugar perto dali, um barulho fresco e fluido que dava a noite uma trilha sonora gélida. Levantou do tronco que usava de banco, provavelmente de alguma árvore seca derrubada pelo vento cruel que recentemente não dava trégua, e saiu em busca de gravetos para uma fogueira, a escuridão não permitia que ela fosse muito longe sem se perder, então se orientando pela fraca claridade da clareira, fruto das estrelas e da lua minguante no céu. Depois de algum tempo jah tinha uma boa quantidade de madeira e com auxilio de um esqueiro e uns pedaços de jornal acendeu a fogueira exatamente no centro do lugar. O fogo, laranja vivo, hipnotizou a menininha. As labaredas lambiam a madeira consumindo rapidamente como se estivesse com fome pequenas fagulhas se soltavam e se perdiam no ar junto com a fumaça, era inebriante observar. A menininha se acomodou graciosamente bem perto da fogueira e agarrada as suas pernas cantarolou músicas sem nenhuma ordem lógica, apenas as que vinham em sua mente aleatoriamente. Pensou nas mil coisas que sentia falta, em outras mil que o tempo levou de sua vida, nas perdas dolorosas e nos afastamentos necessários, nos momentos que gostaria de reviver e naqueles que gostaria de esquecer. Pensou nas pessoas, todas elas. E em meio a colicas de saudade acordou de seus devaneios. A fogueira estava reduzida a brasas incandescentes, uma ou outra chama apenas havia conseguido resistir, agarrada em algum graveto. Ela se acomodou encolhida perto das fogueira quase estinta agora, aproveitando seus ultimos suspiros de calor e ali, aconchegada nas folhas se enroscou num sono profundo e tranquilo, pontuado por alguns sonhos já comuns.

quarta-feira, 19 de maio de 2010

in memoriam

Poucas palavras podem descrever a falta que eu vou sentir daquelas orelhas muito macias, daqueles olhos muito brilhantes e de toda aquela doçura sem fim.
Um pequeno grande personagem, um pequeno enorme cachorro.
Espero te ver brilhando no céu todos os dias pela manhã. Aquela brilhante estrela azul