terça-feira, 27 de abril de 2010

Horas

O dia para ela tinha sido completamente atipico, as músicas de seu despertador não faziam o menor sentido completamente enroladas em seus sonhos malucos, o tempo passava lento quando costumava voar, e começou a voar quando deveria se arrastar, ela estava prester a gritar quando novamente adormeceu. Um sonho cruel marcou seus minutos de sono mal dormido, era absurdamente real e suas cores eram de um filme velho meio gasto e desbotado. O dia correu preguiçosamente, em meio a momentos incomuns, risadas sem humor, comidas sem gosto. No final de um dia quase insuportável uma infinidade de cores enchia aquele mesmo retângulo infinito e luminoso, todas em preto e branco para a menininha que secava com a manga da blusa vermelha os olhos encharcados pelo esforço de distinguir as nuances frenéticas que pulavam e brilhavam na sua frente, sem resultado aparente. Tudo que ela queria ver agora era um lindo verde confuso mas o cinza desolador era tudo que chegava a ela e antes que pudesse esperar mais tudo virou uma grande mancha, as pérolas a impediam de ver qualquer coisa. A antiga sensação de impotência estava de volta, a pior sensação. Desesperadora. Seguida por um entorpecimento que tirou ela de qualquer frequencia. Sua mente estava solta no ar, sem processar nada apenas a eterna perda. E assim continuou, um longo dia terminando em pontadas torturantes.

sábado, 24 de abril de 2010

Folhas

A temperatura não estava das mais quentes, um solzinho tímido brilhava fraco no céu de outono, as folhas coloridas salpicavam o chão e o ar levadas pelo vento. Ela teve o desejo de ir até o riacho. A água estava fria e ela nadou ali por algum tempo, brincou com algumas pedrinhas da margem, passou horas sentada, sem se mexer, apenas sentindo a correnteza fazer seu cabelo dançar, flutuando na superfície. Quando saiu da água estava um pouco tonta, foi até um recorte de sol numa pequena clareira do bosque, estendeu sua toalha cuidadosamente sobre as folhas e deitou o contraste era lindo: um retangulo branco de aparência granulada e muito macia recortando um mar de folhas em todos os tons de outono. Deitou ali, os cabelos espalhados em volta da cabeça. O sol esquentando um pouco sua pele gelada até que começou a sentir as gotas escorrendo por seu abdomen e sua perna, fugindo do calor, tentando encontrar um refugio na toalha e conforme o sol ficava mais forte a fuga se tornava infrutifera e no meio do caminho elas secavam, fazendo cócegas na pele fina da menininha e deixando uma sensação estranha, como se quando separada do contato com a pequena gota uma parte de seu corpo tivesse sido levada junto... estranho

segunda-feira, 19 de abril de 2010

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Gelatina

Era um dia estranho, os raios ainda fracos de um sol inesperado passavam pela copa das árvores dando ao bosque uma claridade verde, mas ainda assim fria, os raios matutinos começavam a secar o orvalho acumulado nas folhas durante a noite. Ela ainda estava muito ensonada, seus olhos inchados pedindo por mais descanso mas sabia de sua obrigação, não poderia fugir, alguns detalhes ainda precisavam ser resolvidos, pois no dia seguinte teria que ser forte e tomar decisões importante. Estava desatenta quando saiu do meio das árvores, o sol ofuscou seus olhos e assim que conseguiu enchergar de novo viu o que não devia, e sua perna virou uma gelatina, sua concentração antes tão afiada foi por água abaixo... estava tudo perdido!

sábado, 10 de abril de 2010

Fadinhas

Fadinhas brilhantes dançavam perto das árvores do bosque com o efeito visual de um pisca pisca, trazendo à menininha lembranças de um natal passado, numa época em que a magia estava em todos os lugares e não escondidas num guarda roupas. A cena se passava numa grande sala meio vazia com janelas tampadas por madeiras claras e iluminada por 3 lustres antigos diferentes, 12 pessoas conversavam fazendo eco pelas paredes. A árvore de natal enfeitada com bolas de vidro coloridas e anjinhos de madeira estava abarrotada de presentes de diferentes tamanhos e formatos, embrulhados em papéis encantados. A menininha via a si mesma anos antes, sentada no chão ao lado de uma grande caixa cor de rosa estampada com ursinhos e corações, o papel laminado do embrulho refletia seus olhos redondos e infantis brilhando numa expressão dolorosamente ansiosa, o cabelo caido em cachos loiros emolduravam seu rostinho pequeno. Os adultos conversavam despreocupados, fartos pela refeição, parecendo achar graça da reação daquela pequena, ao seu lado, talvez tão ansioso mas menos afobado, estava um menininho de traços estranhamente parecidos ao dela, seu cabelo e péle um pouco mais escuros, mas era fácil de notar a semelhança em seus olhos castanhos atentos a reação dos mais velhos. Em pouco tempo a aglomeração em torno do pequeno pinheiro foi o sinal que ela tanto esperava para descobrir o que havia por baixo daquelas folhas especiais. Oh. Como era bom observar tanta espontaneidade e felicidade suave, aparentemente fáceis de conseguir, emoções simples e muito verdadeiras. Uma linda boneca de cabelos loiros, do tamanho de um bebê de verdade entrava na cena, fazendo um sorriso radiante brotar de seus lábios vermelhos. De dentro da caixa, um mundo de imaginação estava sendo oferecido... a boneca numa roupa cor de rosa e um berço de madeira muito real tinham agora toda a atenção daquela criança. O menino, andava pela grande sala numa bicicleta novinha, tornando o espaço pequeno demais, os dois enchendo o ambiente com as risadas satisfeitas de todos que observavam... De volta ao presente ela sentia um calafrio de saudade, uma nostalgia contagiante... era natural e envolvente. A magia de uma lembrança colorida.... pensou ainda na facilidade com que esquecemos das coisas.
As fadinhas ainda dançavam quando ela adormeceu enrolada em pensamentos antigos.

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Rosas

Hoje Ela estava preguiçosamente espalhada no gramado, as folhinhas, sempre muito verdes estavam também agudas por causa do frio e pareciam estiletes afiados contra a péle exposta pelas brechas de seu vestido azul. Do seu lado esquerdo havia uma roseira bem alta onde quatro rosas de cores diferentes dividiam os rigidos galhos verdes e espinhosos, a maior e mais alta era laranja, seguinda por uma um pouco menor vermelha, outra amarela e uma minuscula rosinha roxa na parte mais baixa da roseira, cada uma tão unica e peculiar que horas passaram enquanto ela observava com atenção cada detalhe, ali do chão elas pareciam recortes brilhantes de uma revista cara coladas com esmero num espelho traslucido feito de nuvens compactas. Já do seu lado direito, uma pequena fonte fazia um barulho gelado e suave e ocasionalmente espirrava pérolas de gelo nela. Horas se passaram nesse ócio gostoso e confortável até que o dia foi ficando úmido e num rompante de idéias agarrou o lápis verde e flexível e algumas folhas em branco e desenhou tudo que estava na sua mente, sem ordem ou lógica reconheciveis, apenas espontaneidade.... ao fim de seu trabalho notou formas angulosas e felizes, desenhos soltos e dançantes... livres.
Jogou as folhas rabiscadas a um canto perdendo o interesse e se levantou, no ritmo frenético da fonte, dançando ao som de uma música imaginária, viajando em pensamentos distantes e aleatórios por horas até se perder no escuro azul da noite... Agora as únicas coisas audiveis eram as gotas...