O céu esta noite parecia um papel cinza com incríveis manchas de nankin, as nuvens negras rodeavam a lua deixando a rua escura como breu. A noite já ia avançada quando ela apareceu na esquina, quase correndo em direção a cidade, seu all star barulhento denunciava sua passagem na calçada molhada. Faltava pouco agora, já podia ver ao longe os portões da estação, fortemente iluminado por luzes incandescentes que serviam de palco para mil bichinhos noturnos minusculos e uma grande mariposa que batia na lâmpada com um barulho agourento.
Entrou. Já era tarde e apenas algumas pessoas esperavam o trem, todas em um estranho estado de alerta, meio atentas, meio perdidas em seus próprios problemas. Observando a pequena menininha passar por elas sem dar muita atenção, mas conscientes de sua presença... ela sentou num banco vazio agarrada a sua mochila colorida e começou a observar pequenos detalhes corriqueiros daquelas pessoas. Uma mulher gorda com sandália de plástico amarelo, uma outra, magra e desengonçada tentava dar conta de duas crianças adormecidas em seu colo, três homens de bermudas coloridas, um velhinho de boina.... Com um som estridente e distante um sino anunciava a chegada do trem, ela correu para um bom lugar da plataforma vazia, entrou pela sua porta de sempre sentando no banco de sempre, o vagão estava vazio exceto por um homem, velho e de aparencia peculiar. Sua pele era morena e mal tratada, como se a muito tempo fosse curtida ao sol sem muito cuidado e exibia um incrível bigode grisalho quase todo branco e um quepe muito alinhado de marinheiro. Suas roupas completavam a estranheza do homem como peças erradas de um quebra cabeça forçadas a se encaixar, uma camisa bege meio justa e de mangas curtas fazia par com uma calça marrom boca de sino um cinto com uma enorme fivela dourada e um sapato preto muito lustrado. Ela ainda estava observando o velho que provavelmente saiu de alguma história fantástica quando outra coisa chamou sua atenção: uma velha. Poucos segundos antes da porta fechar ela entrou, e junto com ela uma arrepio que nada tinha a ver com o ar condicionada levantou os cabelos da nuca da menininha. A velha era alta, magra e um pouco corcunda, uma cabeleira desgrenhada caia pela suas costas, seu queixo pontudo e suas entradas acentuadas davam a seu rosto o formato perfeito de um coração, e o nariz era grande e curvado como se não aguentasse o peso da grande verruga em sua ponta, olhos fundos e pretos, contornados por grandes olheiras roxas absorviam cada detalhe do ambiente e sua boca muito fina parecia apenas um risco de cor naquele rosto terrível. Ela estava coberta por uma capa preta que cobria todo seu corpo até o pé. A manga de sua roupa estava arregaçada, deixando a mostra uma espécie de tatuagem que cobria todo seu braço até o fim de seus longos dedos longos e cruéis e na outra mão ela carregava uma pequena bolsa de couro marrom marcada com os mesmo símbolos de seu braço. Mas, o que tornava a cena mais apavorante, a mulher segurava em sua mão livre uma garotinha de mais ou menos 5 anos e afundava suas unhas pretas em seu bracinho de uma forma aparentemente dolorosa. A velha olhou para a menininha que rapidamente desviou o olhar, agarrou sua mochila e inquieta e preocupada se encolheu em seu assento próximo a janela observando a mulher (que mais parecia uma bruxa) e a criança sentada em seu colo, numa discrepancia de informações. Ela não sabia o que fazer, olhava para o velho esquisito esperando dele alguma atitude... a tensão dominou o vagão, agora em movimento... ele lia atendo um livro grosso de capa verde... ela estava sozinha em suas supeitas e nada podia fazer senão esperar, atordoada por parecer estar perdida no meio de uma história fantástica.
segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010
domingo, 21 de fevereiro de 2010
Retângulos
As cores suaves e iluminadas no retângulo infinito a sua frente pouco importavam agora, retângulos menores piscavam em laranja, tentando chamar sua atenção para coisas banais, problemas passageiros, curiosidades fúteis, coisas que ela não queria mais saber... um apenas prometia conforto e solução, e outro deles, o mais importante mostrava apenas aquilo que ela mais queria ver, o que esperou por semanas, incansavelmente. Com efeito seu estômago desmoronou, uma dormencia completamente dominadora percorria seu corpo, uma surdez involuntária tirava sua atenção das coisas à volta com um zumbido permanente em seu ouvido, seu coração dilacerado parecia não saber mais sua função. Ela lia cada palavra escrita em verde bebendo o seu conteúdo com certa veneração, esperando o momento em que colocaria em questão aquilo que guardou por longas semanas, não sabia bem como começar, esperaria o melhor momento. Era imprescindível dizer, dizer para saber... tão essencial quanto a dor maravilhosamente cruel e agradável provocada por tal situação, que agora, loucamente, fazia parte da sua rotina e mantinha seu corpo em constante estado de alerta. Nenhum remédio poderia trazer a normalidade as suas ações, não queria mais ouvir conselhos infrutíferos e leigos sobre coisas dela que a própria menininha não dominava... esperou que o tempo atropelasse a ansiedade, que as sensações se amenizassem mas o efeito foi contrário e a confusão era protagonista em sua gama de enfermidades. Entre linhas verdes e roxas num espiral de distrações ela perdeu a coragem, recuou diante de sua decisão, não conseguia contrariar seus receios e seus pensamentos cruéis, sua força deu lugar a mais dor e a mais dormencias, era quase incontrolável... os retângulos laranjas estavam furiosos agora, reclamando sua presença e aquele único que ela estava realmente presente agora estava apagado, cinza e sem vida deixando ela em meio a cólicas torturantes por sua falta de força, por sua falta de ação... com sorte em algumas horas ela se acostumaria com o incômodo tempo suficiente para esquecê-lo por alguns minutos...
segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010
Flocos
"Oh". Exclamou a menininha ao ver os primeiros flocos de neve da sua vida caindo como pontos de luz por todo aquele lugar incrível. Nunca havia acontecido nada parecido, o frio era intenso, o dia claro... quase branco e o vento cortava seu rosto como a lamina aguda de uma faca bem afiada em quanto ela voava para frente e para tras agarrada nas correntes frias de sua balança vermelha, era uma sensação surpreendente. De repente, como se uma força invesivel estivesse agindo sobre a menininha ela parou, afundou seus pés na terra vermelha ainda exposta sob a balança e olhou para o céu, a luz era dolorosa e infinita, a claridade branca fez com que tudo ali mudasse de cor, ficasse mais pálido, um pouco menos brilhante. ainda sentada, ela prestou atenção em cada floco que caia nela se apegando aos minimos detalhes e concluiu que como nos contos de fadas cada floco é único e mágico. Depois ede alguns minutos la começou a tremer de frio, até que as correntes da balança começaram a acompanhar seu ritmo frenético fazendo uma barulho metálico muito agradável... ela esfregou as mãos, tentando sem muito sucesso se aquecer. Lembrou da antiga caixinha de musica guardada no seu bolso. Pegou, deu corda, abriu e colocou a pequena bailarina perolada no minusculo palco de espelho, girando com a música. Ouviu a música até ficar perdida em pensamentos passou pelos minutos desligada de tudo a sua volta, esqueceu do frio, da neve, de tudo, só voltou ao presente quando um pequeno floco de neve caiu dentro da caixinha e assim que tocou sua superfície aveludada derreteu formando um pequeno círculo molhado, e depois um segundo circulo se juntou ao primeiro...
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